Com
certeza alguém já escreveu sobre isso, mas sempre vale ressaltar. Aliás,
qualquer assunto merece qualquer ressalva básica, e essa é uma delas. Sem mais
delongas.
Simplesmente cansei, CANSEI, de ouvir as pessoas me
dizerem “ai, tu é escritor, vai se dar bem na prova de Português” ou “nossa, tu
errou? Tu não pode errar. Tu é escritor!”. Amigos, colegas e pessoas que nem
conheço direito: DESENCANEM. Eu escrevo sobre criaturas mágicas e não-mágicas,
humanos e não-humanos, vivos e não-vivos, mas isso não me torna nenhum desses
seres; não é por que tenho a criatividade ─ que qualquer um tem, basta
abandonar a preguiça de pensar ─ de criar uma história que eu sou obrigado a saber, de cor e salteado, Gramática,
Ortografia e o diabo a quatro. Sou humano; uma pessoa comum, como qualquer
outra.
Não tenho a obrigação de saber exatamente onde cada
vírgula, ponto, acento, hífen, parênteses ou aspas devem estar. Se eu errar,
tudo bem; é algo que se conserta. Mas o leitor vê isso? Com essa sociedade
“crítica” em que vivemos, é meio difícil afirmar tal coisa... Eu sou leitor, e
admito que tenho meu incontrolável fascínio por livros nacionais ─ talvez por
entender bem que nós, autores, portamos o entendimento do que cada um realmente
vive. Admito, também, que já li livros nacionais apontando erros de maneira
espalhafatosa. “Essa vírgula não deveria estar aqui”, eu dizia, às vezes em voz
um pouco alta demais. “Jesus Amado, que que é isso? A personagem mudou de nome
no meio do livro?!”
É... Só se sente o quanto dói ter o dedo na ferida quando
a ferida é em você.
Leitores já me apontaram erros no que escrevo, e,
confesso, no começo eu até me entristecia. Mas nunca me deixei esmorecer. Estou
errando? Beleza. Vamos ver aonde e dar um jeito nisso rapidinho. Nada que um
pouco mais de estudo e leitura não ajude. Não é feio, não é anti-ético, não é
constrangedor ─ não deve ser ─, para
o autor, saber que ele cometeu alguns deslizes em seu texto. Na verdade, acho
até bom quando os leitores encontram esses errinhos: é sinal de que eles estão
realmente envolvidos na leitura. E isso nunca será algo ruim.
Agora, os leitores também devem saber comentar.
Escritores são humanos, mas são tão sensíveis quanto vocês, que choram a morte
de um personagem querido, que temem o fim da sua saga tão amada. Nós sabemos
que erramos, temos consciência disso, e não precisamos que ninguém diga isso
com um dedo apontado para nossas caras, meio quilo de palavrões esdrúxulos e/ou
quatro pedras não mão que acabamos com toda a concordância do texto em uma
única frase ou com ─ talvez sem ─ uma
única vírgula. Leve em consideração que escrever com sono, numa madrugada
gélida e insone, tem suas consequências, e que, às vezes, nos fogem alguns
trechos à revisão. Além do que, se nos veem tão superiores assim, de onde
arranjam toda essa pompa e coragem de vir falar horrores de nós mesmos nas
nossas caras? Pelas costas ainda chega a ser menos doloroso.
O único orgulho que trago, sinceramente, é de ser um
escritor brasileiro. Não me importo se não me conhecem, não me importo se tem
gente que não gosta do que eu escrevo; me importa que alguém goste e que converse
comigo sobre minhas histórias, expresse suas opiniões, da maneira mais inteligente
e sensata, sem uma gota e arrogância. Isso é que faz a boa relação
leitor-autor: diálogo simples e plausível.
Na verdade, é o que faz a boa relação pessoa-pessoa, que é o que
realmente deve acontecer.