Foram três dias.
No primeiro, estava trancado no quarto, sem água e sem
comida. Sem sol e sem luz alguma. Só escuridão e desalento. Devaneios.
Pensamentos dispersos. Desespero. Fora jogado por dois homens que vestiam
terno. Os dois eram morenos, altos e fortes. Não protestei nem esperneei.
Apenas deixei que me levassem. Assumia toda a culpa daquilo, e nada a revogaria
de mim. A não ser que, por um milagre, eu morresse bem antes, dormindo, até.
Mas isso não aconteceria. E eu dormi.
No segundo dia, a ficha do que ia acontecer pareceu cair.
O desespero emergiu sem dó nem piedade. A angústia, a fome, a sede. Tudo era
gritos e choro. Acho que os “guardas” já não aguentavam mais de dor de cabeça e
fizeram a maior comemoração quanto me calei. Estava arrependido. Deveria ter
arrumado dinheiro de algum jeito para pagar aquela dívida. Bem que Izolda havia
dito: “não se mete com traficante, Luiz. Tu ainda vai se ferrar todo”. E lá
estava eu, me ferrando todo mesmo.
Terceiro dia: desmaios. Um atrás do outro. Como não tinha
muita lucidez, devo ter perdido as contas no quarto ou quinto só pela manhã.
Não me mexia. Não me sentia. E tudo o que via era escuridão. Ninguém nem
chegava perto da porta para olhar minha cara, encarar meus olhos cansados, meu
estômago dolorido e meus pés e mãos sujos de sangue. Do meu sangue. E no final
da tarde ─ tudo o que fazia, ali dentro, era contar o tempo ─, desmaiei para
definitivamente acordar em um lugar que não aquele.
Depois desses três dias, eles abriram a porta. E eu teria
ouvido todos aqueles tiros, se eles não tivessem estourado minha cabeça
inteira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário