Fio
ou linha? Na verdade, o que seria cada um? Ah, sei lá... Uma linha é um traço
reto, imutável, irremovível, inalterável em certos casos. Há uma certa
continuidade em linhas, porém sempre haverá um limite, um final, um ponto em
que já não mais será possível escrever, falar, cantar...
Um fio... Há vantagens em ser um fio, sabe? Elasticidade,
capacidade de se moldar, de assumir várias formas e sem limite algum. Mas por
que ser um fio? Tudo bem que estaria livre, podendo me enrolar em tudo... Ah!
Aí está meu porém: enrolar.
Uma linha não se enrola. Ela é reta, tem seus desígnios
próprios pré-estabelecidos, sua função clara é organizar tudo de forma compreensível.
E é claro que isso é bom.
Um fio, não. Nossa, há liberdade para ser o que quiser.
Isso é realmente incrível! Mas um fio às vezes se enrosca de tal maneira nas
coisas que acaba transformando tudo num belo embaraço, uma verdadeira bagunça.
Há “pessoas-linha” e “pessoas-fio”. Por quê? Bom, não sei
exatamente o porquê de escolherem ser assim.
É tão chato ser uma linha, reta e limitada. Estar sempre
parada e recheada de palavras, que, muitas vezes, nem são tão confortáveis de
carregar nas costas.
É tão estranho ser um fio. Mudar de forma, tamanho,
espessura, cor... Isso é cansativo, perturbante, assustador... E muitas vezes
as pessoas se aproveitam da flexibilidade do fio, querendo moldá-lo para ser o
que elas quiserem, não ele.
Mas minha dúvida ainda paira: linha ou fio?
Não quero me dividir e fazer a escolha errada. Ué, quem
chega longe só com escolhas certas? Na verdade, sempre há uma terceira
alternativa depois da “certa” e da “errada”: a consciente.
Posso me manter como um fio-linha e ser limitado e flexível,
como qualquer bom ser humano que age por si mesmo espontaneamente. Talvez até
carregue palavras mais bonitas às costas ou assuma formas interessantes no
mundo.
Um comentário:
Alexandre, sua escrita e estética está magnânima! É corajoso da sua parte romper o padrão de uma crônica comum, embora as artes literárias são um rumo para a liberdade de pensamento. Ao ler as suas crônicas, recordo-me do meu querido cronista Veríssimo e, também, dos contos Machadiano. Estou maravilhado! Personificar "fio" e "linha", e levantar questões filosóficas baseada nesses meros objetos, deixou-me impressionado.
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