Deus
criou o mundo inteiro, mas deixou o pior animal pro Capeta inventar. Tanta
coisinha bonita que Nosso Senhor pôs na Terra... Podia pelo menos ter colocado
essa sem asas e bem menor que o de costume. Mas não. Ele, cansado, deixou
faltar o pior dos bichos. E, desde criança, até hoje eu penso: BARATA NÃO É CRIAÇÃO DE DEUS!
Dia desses estava lendo sobre elas. Vi que resistiram até
a bombas nucleares, à extinção dos dinossauros e muitas outras catástrofes. E
MIB – Homens de Preto? Quem assistiu aquele filme e já tinha nojo de barata,
ficou com mais repulsa ainda, tenho certeza. Pelo menos eu fiquei. Claro, um
alienígena barata, do planeta barata, possuindo o corpo de um homem ─ cuja a
interpretação impecável só me deixou com mais nojo ainda. Credo!
Sempre levei comigo: aquilo de que mais sentimos medo é o
que mais queremos conhecer. Ainda bem que com essas coisas eu só sinto nojo
mesmo. Já pensou, ter medo de barata, ser magicamente reduzido ao tamanho de
uma e passar a conviver, dias e dias, numa comunidade de cascudas, peludas e
voadoras donas Baratinhas? Sinta nojo, apenas. Você não quer traumas como esse,
garanto.
Uma vez, minha vizinha, a daqui de baixo, falou, em uma
de nossas conversas com os outros vizinhos ─ todo mundo do prédio é amigo ─,
que tinha aparecido uma barata “ENOOORME”, segundo ela. “Liguei pro meu
namorado, coitado, veio pra cá correndo, dez horas da noite, e não encontrou a
danada”, ela dizia. “Ele dormiu aqui duas noites e ela nem sinal de vida ─ ou
de morte, o que seria mais tranquilizador.” Claro que todos nós rimos, mas
fiquei apreensivo. Naquela noite, todos contamos nossas experiências com essas
coisas escrotas e eu quase não preguei o olho.
Na semana seguinte, olha que ironia: Karla, a vizinha
daqui de baixo, que teria ligado para o namorado dez horas da noite dizendo que
havia um “monstro” em sua cozinha e que ela não ia conseguir dormir enquanto
esse “monstro” estivesse lá, me chamou no WhatsApp às 23h55’, dizendo haver
mais um monstro, dessa vez no quarto dela, e que ela estava desesperada.
“Vou me vestir e chego já aí”, respondi.
Me vesti, desci as escadas e me deparei com uma Karla de
camisola, no corredor, com uma lata de Raid na mão, assanhados cabelos negros e
uma antipatia nada comum no rosto.
“Ela tá de baixo do guarda roupa”, ela recomendou, e me
deu a lata de veneno. Entrei, me abaixei e dei uma batidinhas na madeira. A
infeliz saiu correndo pela lateral e eu vi que nem um jogador de futebol
correndo atrás de uma bola viva.
Foi pra baixo da cômoda e saiu perto da porta do
banheiro. Nisso, a Karla já estava olhando por cima do meu ombro. Swiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiissh! “Toma
veneno, desgraçada!!!”
Juro. Só sosseguei quando aquela coisa horrorosa já não
se debatia mais, boiando na poça de pesticida e a lata de Raid estava quase
vazia.
“Meu herói!”, Karla me abraçou. “Agora vou ter que dar um
jeito naquele ralo que tem de baixo da pia, senão nunca mais nem durmo nem
deixo ninguém dormir!” E a gente riu.
“E se não aparecerem só aqui?”, perguntei, apreensivo.
“Então a gente vai ter que dar um banho de inseticida no
prédio todo, amigo.”
Pra você ver: uma coisinha tão insignificante e tão forte
como a barata, que sobrevive a tanta coisa, e os cientistas inventaram algo bem
mais eficaz do que 500 chineladas: uma latinha com vários mililitros de bombas
nucleares.
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