Um homem e as dores da memória
Sinopse: Um homem acorda acorrentado numa sala de tortura sem se
lembrar de nada.
Um
baixinho com uma camiseta do Black Sabbath o interroga, enquanto os capangas -
"dois sujeitos vestidos com roupas de couro apertadas, compradas em algum
sex shop de baixa qualidade para simular o mais próximo possível de um clube
sadomasoquista" - o auxiliam. Eles querem que o homem conte o que
aconteceu - detalhadamente - antes de chegar até ali. Querem que ele explique
como foi parar dentro de uma banheira cheia de gelo.
O
problema é que seu inconsciente está bloqueando essas informações por causa de
um trauma.
Numa
narrativa emocionante e misteriosa, Raphael Draccon conduz o leitor ao universo
desse homem acorrentado pelos próprios erros e dramas. Sexo, magia e vingança
se misturam para criar uma trama surpreendente.
Nunca
havia lido nada do Raphael Draccon, e olha que tenho todos os livros dele ─
autografados, ainda por cima. Mas são tantos livros para ler, discutir com
alguém, alguns presentes, algumas indicações... Você acaba ficando cheio de
prioridades, e, a quem deveria realmente priorizar, a quem mais admira, você
acaba deixando um pouco de lado. Da próxima vez que encontrá-lo, pedirei
desculpas pessoalmente.
E outra: nem sabia por qual livro começar. Perguntava a
um e outro fã em comum e sempre me indicavam ou Fios de Prata ou Espíritos de
Gelo. Daí, escolhendo a meta de férias, pensei: “Ah! Vamos pelo mais
fininho”. Lembrete: nunca julgue um livro pelo número de páginas.
176 páginas podem fazer você suar [de tensão] até a
última gota.
Espíritos de Gelo é um livro à parte do que Raphael escreve ─ Fantasia ─,
e não se engane achando que, por não ser algo com que o autor está acostumado a
trabalhar, uma obra de outro gênero não seja tão boa quanto as outras ─ o que
não posso mesmo afirmar enquanto não ler os outros livros dele.
No livro, publicado pela editora LeYa em 2013, um homem está sendo torturado para se lembrar de cada
momento desde que teve a ideia de se matar [pulando de uma ponte] interrompida
por uma mulher misteriosa que mudaria sua vida. Mariana Slaviero acabou
mostrando àquele homem ─ cujo nome juro não me recordar se foi citado ─, mesmo
depois de ele ter perdido o pai e a empresa que herdara, que ele poderia ter
tudo o que mais desejasse, incluindo paz e tranquilidade, sem temer qualquer
ameaça do destino.
Porém, o destino não costuma esquecer as ameaças que faz.
Ele as guarda sob sete portas com sete cadeados, cada. E há sete chaves para cada um dos cadeados. O destino
lembra-se melhor do que está sendo protegido do que de cada chave de cada
fechadura de cada cadeado, e tudo isso representa a lerdeza que memória humana
tem para chegar aos motivos que explicavam o fato de se estar acorrentado,
sendo torturado, sangrando, sem um rim e agonizando coisas que ninguém
compreenderia se tivesse acontecido de verdade.
E talvez tenha mesmo acontecido. Será? Afinal, em que país não existem seitas que cultuam sabe-se lá o que, onde vários ricaços se reúnem para fazer coisas que vão além do pudor ou da razão ou dos dois? Em que país os “interrogatórios violentos” para conseguir informações valiosas deixaram de existir? Em que país, mesmo com toda a educação e o dinheiro, com tudo de bom e melhor, o filho de algum milionário não cometeria as mesmas besteiras que esse cara fez?
Pode não ter acontecido, mas, na ficção, uma mentira é
uma verdade moldada para parecer surreal.
Além de toda essa loucura envolvida na trama, Raphael
ainda fez, não uma nem duas, mas umas quinhentas
ou mais referências a tudo o que você puder imaginar ─ desde o que sua mãe
disse quando você nasceu até o que uma mulher diz a você em um motel; desde uma
produção cinematográfica nacional, até uma internacional. Traduzindo: é contada
a criação e o fim do mundo, que nunca foram completamente comprovadas, em
termos de cinema, rock e até religiões ocultas.
O mais importante de tudo: isso jamais confundiria a cabeça de um bom leitor.
Creio que, só essas poucas ─ ah, nem tão poucas assim,
né? ─ páginas foram suficientes para fazer crescer em mim uma nova paixão por
uma nova escrita. Aliás, se eu tivesse realmente pego Espíritos de Gelo ou qualquer outro livro do Raphael Draccon antes,
teria ficado completamente fissurado da mesma maneira.
Sou um admirador do trabalho dele e da Carolina Munhóz,
sua esposa, claro! Os dois, por um incentivo não completamente consciente, me
fizeram embarcar nesse mundo amável e louco que é a literatura. E justamente
pro serem brasileiros, me mostraram a esperança nos livros nacionais e como eu
devia apreciá-los.
O que posso fazer agora é agradecer aos dois e indicar,
sem sombra de dúvida, um maravilhoso livro do Rei Dragão: Espíritos de Gelo!
O autor: Raphael Draccon é roteirista profissional e autor de
literatura fantástica contemporânea, ficção de horror e romances sobrenaturais.
É o autor mais jovem a assinar com os braços nacionais de duas das maiores holdings editoriais do mundo, e roteirista premiado pela American Screenwriter Association.
É o autor mais jovem a assinar com os braços nacionais de duas das maiores holdings editoriais do mundo, e roteirista premiado pela American Screenwriter Association.
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