Um
homem, Aloísio, tinha o estranho sonho de, um dia, jogar-se de um prédio de
trinta andares. Sem questionamentos, por favor.
Sem pressa para realizar tal desejo, ele andava pelas
ruas a caminho do trabalho admirando as grandes construções pela cidade,
procurando alguma que o agradasse mais. Parecia até uma criança que, pela
primeira vez, vê um avião passar no céu: cabeça erguida e sorriso bobo. Algumas
pessoas até encaravam aquela situação como algo idiota. “Que cara estranho”,
diziam alguns garotos. “Deve estar querendo abraçar os prédios”, dizia uma
senhora, rindo. Aloísio nem sempre ouvia, e quando ouvia, ignorava.
Era casado. Julieta sempre soube que o marido tinha tal
sonho, porém nunca ligou muito; ela encarava aquilo como uma brincadeira. Sempre
duvidou da capacidade do marido de cometer aquele ato, mas ficava muda diante
das situações em que ele contava tal fato sobre si em reuniões de família ou
trabalho.
Até que um dia Aloísio começou a colecionar uma série de
matérias de jornais e revistas, procurando onde pudesse encontrar reportagens,
textos e crônicas sobre suicídio, sobre se jogar de prédios e monumentos etc. A
partir desse momento, Julieta descobriu que poderia ficar viúva mais rápido do
que esperava.
Um dia, quando Aloísio saía para o trabalho, ela disse
que o acompanharia até a igreja ─ que ficava no caminho. De certo, ela queria
conversar com Deus para colocar algumas porções de juízo na cabeça do marido.
Enquanto ela estava na igreja, o marido, indo para a
repartição em que trabalhava, acabou mudando de rumo e adentrando um prédio
para o qual sempre olhava quando passava por ali. O porteiro não ligava muito
para quem entrava ou saía, então Aloísio conseguiu pegar facilmente um elevador
até o último andar do edifício, tendo que usar uma escada para chegar ao
terraço.
Na rua, as pessoas não prestavam tanta atenção ao que
acontecia lá em cima. Talvez estivessem ocupadas demais com seus celulares, com
os horários que tinham a cumprir ou rezando em suas igrejas cinzentas de
vitrais coloridos pelos maridos ou esposas que sofriam de supostos distúrbios
mentais.
Aloísio, em seus quarenta anos de vida, nunca conseguiu
entender ao certo o porquê de as pessoas não acreditarem no seu sonho. Todo
sonho deve ser realizado, deve ser cumprido e, quem sonha, tem a obrigação de
cuidar para que aquele desejo se concretize. Qual era a dificuldade em entender
isso?
Ele posicionou-se no parapeito. Encarou o céu, da mesma
forma como encarava o prédio, outro dia, como uma criança.
Ele enxergava as nuvens, os pássaros, o sol e a cidade
toda. Enxergava os outros prédios, casas, carros, árvores e praças. Enxergava
as pessoas, e, dali de cima, elas não passavam de seres insignificantes que não
pensam direito.
O louco não era ele.
Sorriu.
Um impulso para frente, ele caiu. Mas caiu sorrindo.
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