Como toda sexta-feira na igreja do Sagrado Coração de
Jesus, aquela era noite de Adoração ao Santíssimo Sacramento. Genésio, que
adotara a prática de frequentar esse momento toda semana desde julho, quando o
novo semestre começou, já estava pronto e dentro da igreja, só esperando o
padre começar.
Sobre a nuca, Genésio passou a adoração inteira sentindo
um olhar malicioso, como se o homem estivesse bem junto dele. Quando virou-se
para trás, percebeu o desvio rápido do olhar de um senhor já de idade, sentado
no penúltimo banco de madeira.
Ignorando, Genésio virou-se novamente para frente,
retomando a atenção ao padre, que erguia o ostensório, já finalizando a benção
do Santíssimo.
Quando se virou novamente, o rapaz viu que o senhor não
estava mais lá, no lugar de antes. Então caminhou até a saída mais próxima, as
pessoas já evacuando a igreja, e deu de cara com o homem de cabelos grisalhos e
sorriso malicioso no rosto, puxando os olhos de expressão cansada escondidos
pelos óculos bifocais.
─ Olá, rapaz ─ cumprimentou o senhor, estendendo a mão
para que Genésio pegasse.
Genésio apertou sua mão firmemente e sorriu de maneira
tímida em resposta.
─ Olá, senhor...
─ Notei que vem toda sexta... Promessa?
─ Não, não... Só o comecei a vir por experiência e acabei
gostando.
─ Hmm... ─ disse o homem, pensativo. ─ E qual o seu nome?
─ Me chamo Genésio. E o senhor?
─ Carlos. Qual sua idade, Genésio?
─ Tenho vinte e três anos... E o senhor?
─ Quase sessenta, mas bem. Em forma ─ ele riu.
Genésio riu de volta. Gostara da simpatia do senhor.
Parecia um homem bem estruturado na vida, do tipo que era casado com uma mulher
de meia idade e tinha um casal de filhos da mesma idade que o rapaz.
─ Então, Genésio... Que tal ir na minha casa?
O rapaz assustou-se. “Como assim?”, perguntou-se. E,
depois, em voz alta:
─ Como assim, seu Carlos?
─ Ah, rapaz... Vamos na minha casa. Podemos fazer um
lanche, jogar conversa fora, fazer algo... além do pudor...
Nisso, Carlos já passara a mão no peito de Genésio e
acariciava, agora, seus encaracolados cabelos castanhos.
─ Eu... Ahn... O senhor não é casado?
─ Não mesmo. Me divorciei da minha mulher no primeiro ano
de casamento. Não gostava dela. Meu negócio era outro...
Tenso, Genésio estava meio sem reação, mas, simplesmente,
afastou-se um pouco do senhor Carlos e disse:
─ Podemos deixar para outro dia? Estou com um pouco de
pressa, preciso fazer uns trabalhos...
─ Claro, claro ─ respondeu o homem, sorridente. ─ Espero
você na próxima sexta-feira.
Genésio ficou mais tenso ainda.
No caminho para casa, pensando no sorriso do senhor
Carlos, o rapaz já não sabia se deixava de frequentar aquela igreja nas
sextas-feiras ou se, simplesmente, rendia-se aos encantos daquele homem mais
velho. Afinal, as pessoas costumam fazer propostas em que pensar só duas vezes
antes de aceitar ou é pouco ou irracional demais.
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