quarta-feira, 16 de setembro de 2015

#Crônica06 - Propostas


Como toda sexta-feira na igreja do Sagrado Coração de Jesus, aquela era noite de Adoração ao Santíssimo Sacramento. Genésio, que adotara a prática de frequentar esse momento toda semana desde julho, quando o novo semestre começou, já estava pronto e dentro da igreja, só esperando o padre começar.
Sobre a nuca, Genésio passou a adoração inteira sentindo um olhar malicioso, como se o homem estivesse bem junto dele. Quando virou-se para trás, percebeu o desvio rápido do olhar de um senhor já de idade, sentado no penúltimo banco de madeira.
Ignorando, Genésio virou-se novamente para frente, retomando a atenção ao padre, que erguia o ostensório, já finalizando a benção do Santíssimo.
Quando se virou novamente, o rapaz viu que o senhor não estava mais lá, no lugar de antes. Então caminhou até a saída mais próxima, as pessoas já evacuando a igreja, e deu de cara com o homem de cabelos grisalhos e sorriso malicioso no rosto, puxando os olhos de expressão cansada escondidos pelos óculos bifocais.
─ Olá, rapaz ─ cumprimentou o senhor, estendendo a mão para que Genésio pegasse.
Genésio apertou sua mão firmemente e sorriu de maneira tímida em resposta.
─ Olá, senhor...
─ Notei que vem toda sexta... Promessa?
─ Não, não... Só o comecei a vir por experiência e acabei gostando.
─ Hmm... ─ disse o homem, pensativo. ─ E qual o seu nome?
─ Me chamo Genésio. E o senhor?
─ Carlos. Qual sua idade, Genésio?
─ Tenho vinte e três anos... E o senhor?
─ Quase sessenta, mas bem. Em forma ─ ele riu.
Genésio riu de volta. Gostara da simpatia do senhor. Parecia um homem bem estruturado na vida, do tipo que era casado com uma mulher de meia idade e tinha um casal de filhos da mesma idade que o rapaz.
─ Então, Genésio... Que tal ir na minha casa?
O rapaz assustou-se. “Como assim?”, perguntou-se. E, depois, em voz alta:
─ Como assim, seu Carlos?
─ Ah, rapaz... Vamos na minha casa. Podemos fazer um lanche, jogar conversa fora, fazer algo... além do pudor...
Nisso, Carlos já passara a mão no peito de Genésio e acariciava, agora, seus encaracolados cabelos castanhos.
─ Eu... Ahn... O senhor não é casado?
─ Não mesmo. Me divorciei da minha mulher no primeiro ano de casamento. Não gostava dela. Meu negócio era outro...
Tenso, Genésio estava meio sem reação, mas, simplesmente, afastou-se um pouco do senhor Carlos e disse:
─ Podemos deixar para outro dia? Estou com um pouco de pressa, preciso fazer uns trabalhos...
─ Claro, claro ─ respondeu o homem, sorridente. ─ Espero você na próxima sexta-feira.
Genésio ficou mais tenso ainda.
No caminho para casa, pensando no sorriso do senhor Carlos, o rapaz já não sabia se deixava de frequentar aquela igreja nas sextas-feiras ou se, simplesmente, rendia-se aos encantos daquele homem mais velho. Afinal, as pessoas costumam fazer propostas em que pensar só duas vezes antes de aceitar ou é pouco ou irracional demais.

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