quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

#Crônica08 - A Barata da Vizinha


Deus criou o mundo inteiro, mas deixou o pior animal pro Capeta inventar. Tanta coisinha bonita que Nosso Senhor pôs na Terra... Podia pelo menos ter colocado essa sem asas e bem menor que o de costume. Mas não. Ele, cansado, deixou faltar o pior dos bichos. E, desde criança, até hoje eu penso: BARATA NÃO É CRIAÇÃO DE DEUS!
Dia desses estava lendo sobre elas. Vi que resistiram até a bombas nucleares, à extinção dos dinossauros e muitas outras catástrofes. E MIB – Homens de Preto? Quem assistiu aquele filme e já tinha nojo de barata, ficou com mais repulsa ainda, tenho certeza. Pelo menos eu fiquei. Claro, um alienígena barata, do planeta barata, possuindo o corpo de um homem ─ cuja a interpretação impecável só me deixou com mais nojo ainda. Credo!
Sempre levei comigo: aquilo de que mais sentimos medo é o que mais queremos conhecer. Ainda bem que com essas coisas eu só sinto nojo mesmo. Já pensou, ter medo de barata, ser magicamente reduzido ao tamanho de uma e passar a conviver, dias e dias, numa comunidade de cascudas, peludas e voadoras donas Baratinhas? Sinta nojo, apenas. Você não quer traumas como esse, garanto.
Uma vez, minha vizinha, a daqui de baixo, falou, em uma de nossas conversas com os outros vizinhos ─ todo mundo do prédio é amigo ─, que tinha aparecido uma barata “ENOOORME”, segundo ela. “Liguei pro meu namorado, coitado, veio pra cá correndo, dez horas da noite, e não encontrou a danada”, ela dizia. “Ele dormiu aqui duas noites e ela nem sinal de vida ─ ou de morte, o que seria mais tranquilizador.” Claro que todos nós rimos, mas fiquei apreensivo. Naquela noite, todos contamos nossas experiências com essas coisas escrotas e eu quase não preguei o olho.
Na semana seguinte, olha que ironia: Karla, a vizinha daqui de baixo, que teria ligado para o namorado dez horas da noite dizendo que havia um “monstro” em sua cozinha e que ela não ia conseguir dormir enquanto esse “monstro” estivesse lá, me chamou no WhatsApp às 23h55’, dizendo haver mais um monstro, dessa vez no quarto dela, e que ela estava desesperada.
“Vou me vestir e chego já aí”, respondi.
Me vesti, desci as escadas e me deparei com uma Karla de camisola, no corredor, com uma lata de Raid na mão, assanhados cabelos negros e uma antipatia nada comum no rosto.
“Ela tá de baixo do guarda roupa”, ela recomendou, e me deu a lata de veneno. Entrei, me abaixei e dei uma batidinhas na madeira. A infeliz saiu correndo pela lateral e eu vi que nem um jogador de futebol correndo atrás de uma bola viva.
Foi pra baixo da cômoda e saiu perto da porta do banheiro. Nisso, a Karla já estava olhando por cima do meu ombro. Swiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiissh! “Toma veneno, desgraçada!!!”
Juro. Só sosseguei quando aquela coisa horrorosa já não se debatia mais, boiando na poça de pesticida e a lata de Raid estava quase vazia.
“Meu herói!”, Karla me abraçou. “Agora vou ter que dar um jeito naquele ralo que tem de baixo da pia, senão nunca mais nem durmo nem deixo ninguém dormir!” E a gente riu.
“E se não aparecerem só aqui?”, perguntei, apreensivo.
“Então a gente vai ter que dar um banho de inseticida no prédio todo, amigo.”

Pra você ver: uma coisinha tão insignificante e tão forte como a barata, que sobrevive a tanta coisa, e os cientistas inventaram algo bem mais eficaz do que 500 chineladas: uma latinha com vários mililitros de bombas nucleares.

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