segunda-feira, 11 de maio de 2015

Qual o seu problema com autores nacionais?!

Um texto de Alexandre de Almeida sobre leitores que não sabem aproveitar o que tem ao seu redor!

Gostaria de, primeiramente, agradecer a quem está acompanhando o Vida de Escritor. É uma honra poder mostrar para vocês novidades e dicas do meio literário. Porém, não é bem disso que venho falar hoje.



Não por que eu escreva, nem por que tenha amigos que escrevam, mas pelas minhas experiências como leitor e adepto das redes sociais, entendo que questões de gosto [literário] são indiscutíveis. Mas um questionamento reina: há uma justificativa sensata para que você não goste de certas obras ou autores, ou você simplesmente não gosta por achar que determinada história não é boa? Porém, uma pergunta maior paira, principalmente no nosso querido país: qual o seu problema com autores nacionais?!
Com a chegada do século XXI, muita coisa foi mudando na cultura brasileira, principalmente na literatura. Na primeira década, o número de editoras era um tanto baixo, e suas publicações, raras e não muito... nacionais, se é que me entendem. E podem crer: até mesmo as editoras têm sua preferência em termos de nacionalidade. Mas agora, na segunda década, temos tantos autores e tantas histórias novas e boas que até as livrarias tem estantes próprias para escritores brasileiros!
O que isso tem a ver com o gosto literário das pessoas?, vocês me perguntam. Tem tudo a ver, minha gente!
Desde que o escritor nacional passou a ser valorizado pelas livrarias e que o número de editoras no país aumentou, os leitores têm voltado mais seus olhos para as “coisas da terra”, as novas manifestações de arte e tecnologia que os livros nacionais tratam em suas histórias, poesias ou lições.
Mas aqui e acolá ainda cruzo com alguém que julga um conterrâneo como incapaz de produzir um romance de Ficção Fantástica ou uma coletânea de contos, alguém que diz que “brasileiro é burro e não consegue escrever nem o nome direito, que dirá um livro”. Ainda ouço pessoas dizerem que eu, eu mesmo, me acho o tal por escrever histórias que misturam realidade e fantasia. Ainda dou de cara com indivíduos que usam pseudônimos estrangeiros quando vão publicar suas obras por que chamam mais atenção na hora de vender.
E é aí que pergunto: se você tem vergonha de usar seu nome, de honrar sua própria nação, porque as pessoas iriam lhe olhar torto, de que adianta publicar um livro no seu país? É como se a pessoa não conhecesse Paulo Coelho, como se quisessem apenas imitar J. K. Rowling, que não é brasileira, e não querer que seu nome fique famoso.
Simples: a intenção não é mesmo engrandecer seu próprio nome; a intenção de escrever um livro, ter todo o trabalho de pesquisar, revisar e diagramar, mandar para uma editora, ser avaliado e aceito e chegar à publicação NÃO é tornar o seu nome famoso, mas mostrar que seu trabalho é que é bom. Você será famoso? Sim! Mas concentrando-se só em você, seus trabalhos nunca serão bem sucedidos, nunca terão o resultado que você espera que tenham, justamente por que você só quer ter um prestígio maior que outros.
E para os leitores que têm um “pré-conceito” — adoro falar assim, porque preconceito, em si, é um conceito pré-estabelecido —, que nunca abriram um livro da Carolina Munhoz ou da Thalita Rebouças, que nunca, sequer, se interessaram por autores até da mesma cidade que a sua, uma dicazinha básica: VAI LER, Ô, DESOCUPADO FALADOR! Dizer que um brasileiro é incapaz de produzir conhecimento é dar um soco na própria cara, autoflagelar-se, desrespeitar a si mesmo.
Eu, particularmente, não sou de ler clássicos da literatura nacional, mas isso se deu por que já li e realmente não gosto. Prefiro os mais atuais, mais compreensíveis e que, de algum modo, me ensinarão a falar minha própria língua. Tente ler algo do tipo, pelo menos um conto, de um escritor nem que seja de outro estado. Não é certo desvalorizar o trabalho de alguém que passou noites em claro, dores de cabeça e recusou vários compromissos para escrever uma boa história. Se fosse com você, leitor/novo escritor, garanto que não lhe agradaria.
No mais, está dado meu recado, certo? Nada de sair por aí falando “asneiras”, como diria Visconde de Sabugosa. Curta mais a sua cultura, afinal, ela é nossa.



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