quarta-feira, 25 de novembro de 2015

#Crônica07 - Esqueci


Quem nunca vivenciou isso? Você vai contar algo para alguém, uma fofoca talvez, e, simplesmente, esquece. Some. Evapora. Estava ali, na ponta da língua, e ou o vento ou Deus ou o diabo levou. Que troço!
“Bell”, falei. “Tô com dois temas para crônicas.” Falei o primeiro de boa. Mas o segundo tema... bom, o segundo tema é o título dessa.
“E o outro?”, ela perguntou. Pensei por meia hora. Nada. O tema não voltou. “Alê...?”, ela já chamava no aplicativo de bate-papo.
“Esqueci.”
Essa não é a primeira vez. Claro, uma vez ou outra a gente esquece de qualquer besteirinha, do dia a dia mesmo. Coisa pouca. Mas, desde que assisti Para Sempre Alice, esses lapsos de falta de memória me fizeram sentir como a própria Alice, interpretada por Julianne Moore, que começou esquecendo de coisas corriqueiras e, depois de um tempo, já esquecia até quem eram seus filhos. Triste.
Então peguei-me pensando: “e se eu começasse a esquecer o que tenho que escrever, que nem aconteceu hoje?”
E se eu esquecesse os trabalhos da faculdade, ou até mesmo a faculdade? E tudo que aprendi lá? E se eu esquecesse o espanhol? Se eu esquecesse meus livros, meus poemas, minhas músicas? Caramba, se eu esquecesse como se toca violão?!
Se eu começar a esquecer dos amigos ─ coisa que já acontece automaticamente e aí é que é com qualquer um mesmo. Se eu começar a esquecer da família ─ olha, tem parente que é bom esquecer mesmo. Se eu começar a esquecer dos relacionamentos passados ─ isso já seria ótimo. Se tudo sumir da minha mente, como o simples assunto de uma conversa meio nada a ver, será que eu vou ter a chance de reconstruir memórias? Assim, eu me vejo pensando assim, sabe? O que é e não é preocupante. Sei lá.
Depois de um tempo, é perceptível que isso é só paranoia. São devaneios necessários para testar a própria atenção, a própria memória. Sim. Você se pega fazendo de tudo para não esquecer algo. Está prestes a sair de casa, e revista a própria mochila e os bolsos da calça em busca de objetos que pudessem ser esquecidos: celular, chaves, moedas etc. Esses exercícios se tornam tão comuns que acabam virando mecânicos. Quando você para pra pensar nessas coisas, acaba percebendo que era mesmo paranoia, que você estava tão desesperado por não perder a memória que criou seus próprios meios de se livrar do esquecimento.
Tanto que, escrevendo essa crônica, percebi que também era um meio de refrescar a memória de algo, e acabei lembrando o tema daquela que havia esquecido.

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